carlton davis
Alternating a glossy page with a mat one, pictures of a face or of a human torso with anolher of animal texture parts, Carlton Davis' photos discuss the most varied meanings that the word "skin" can have, not only from the point of view of the language but, and more so, from that of the image.
Indeed, the small captions on the reverse of each photo, only outline the subject matters within the ambiance of words and digress from the fact that because it is a matter of images, the main element involved, the one that gives a wider range of meanings to photos, apparently so different among each other, is not even the skin but the surface.
The last anthropomorphic image, a masculine torso, carries tonalities which immediately remind us of the painter El Greco's (1541-1614) portraits; besides any questionable subjectivity, the colors and pre-dominantly the nuances of luminosity takes us back to a pictorial universe of 400 years ago. What makes this bridge possible and leaves us free to appreciate what we see in this insert, throats, mouths, immaterial blue backgrounds, small rodent fetuses, a black figure on a dark background? The surface. In the universe of surfaces, subject matters are not measured by expressions, meaningful fissures, a smile, a wrinkle. In this universe, everything is measured by the strictly plastic aspect and by the space it takes up on a bi-dimensional plane.
The surface of a photo cannot be blemished. If this happens, we are no longer looking at a photo, but at a sheet of paper, at a ready-made, at a defiled image. Carlton Davis' photos take advantage of this continuity. The skin itself of the frog he photographed, probably slit by a blade, is purposely sewn so that the guts of the vertebrate cannot be seen. Similarly, his human figures are expressionless, they are neither smiling nor crying, they are simply with their eyes open, leading us to grasp the most that open or half-closed eyes may mean. To see the hag he photographed is an exclusively esthetic experience because we neither see nor know what is inside it.
In these photos, the author shows that he agrees with the foremost reality of photography, which essentially discloses nothing further than the skin of things.
Alternando uma página com brilho e outra fosca, retratos de um rosto ou um busto humano com outro de partes de tessitura animal as fotografias de Carlton Davis discutem os mais diversos sentidos que o termo "pele" pode ter, não apenas do ponto de vista da linguagem, mas, e principalmente do ponto de vista da imagem.
De fato, os pequenos verbetes que acompanham, no verso de cada foto, só delimitam conteúdos no entorno das palavras e desviam do fato de que em se tratando de imagens, o elemento principal em questão, aquele que dá uma maior rede de significados a fotos aparentemente tão diversas entre si, nem é a pele, mas a superfície.
A última imagem antropomórfica, um busto masculino, traz tonalidades que nos remetem instantaneamente a retratos do pintor El Greco (1541-1614), além de qualquer subjetividade questionável, as cores e principalmente a nuança de luminosidade nos transportam para um universo pictórico que remonta a 400 anos. O que permite essa ponte e deixa-nos livres para associar o que vemos nesse encarte, pescoços, bocas, fundos azuis imateriais, pequenos fetos de roedores, uma figura negra com fundo escuro? A superfície.
No universo da superfície os conteúdos não se medem por expressões, fissuras significativas, um sorriso, uma ruga. Neste universo tudo que se mede pelo aspecto estritamente plástico e pelo espaço que ocupa em um plano bidimensional.
A superfície de uma foto não pode ser maculada. Se isso acontece, não estamos mais diante de uma foto, mas de um papel, de um ready-made, de uma imagem adulterada. As fotos de Carlton Davis valem-se dessa continuidade. A própria pele do sapo que fotografou, costurada de modo de que não se pode ver as vísceras do vertebrado. Assim também, suas figuras humanas tem uma expressão impassível, não estando sorrindo nem chorando, apenas com os olhos abertos nos deixando entender o máximo que olhos abertos ou semi-abertos possam significar. Ver a bolsa que fotografou é uma experiêcia exclusivamente estética pois não enxergamos nem sabemos o que há dentro dela.
Nessas fotografias o autor mostra que está de acordo com a realidade primeira da fotografia, que essencialmente, não revela mais do que a pele das coisas.
Rafael Vogt Maia Rosa, 1999